Magazine do Xeque-Mate

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Carta Maior sobre os melhores momentos da eleição.




DEBATE ABERTO

Campanha 2010: “melhores” momentos

Serra revelou-se um candidato medíocre, sem luz própria, correndo atrás do eleitorado com frases de efeito e de ocasião. Assim, num primeiro passo, proponho aos leitores uma enquete sobre quais teriam sido os momentos mais ridículos dessa campanha.
Haverá muitas análises sobre os motivos da vitória de Dilma Rousseff nas eleições de 2010. Mas sem dúvida um dos motivos da sua eleição chama-se José Serra. É claro que ele encarnou o projeto anti-popular e anti-democrático da coligação PSDB-DEM. Também é claro que para sua candidatura acorreu a nata da escória política brasileira: os saudosos da ditadura, os TFP, a Opus-Dei, mais aqueles que não suportam ver pobre comprando em shopping.

Com isso tudo e para além disso, Serra revelou-se um candidato medíocre, sem luz própria, correndo atrás do eleitorado com frases de efeito e de ocasião. Assim, num primeiro passo, proponho aos leitores uma enquete sobre quais teriam sido os momentos mais ridículos dessa campanha. Alguns deles foram brutais, mas nem por isso deixam de ser ridículos.

1) Serra demora para se declarar candidato, quando todo mundo já sabia que ele seria.

2) Serra começa a novela da escolha do seu vice.

3) Serra aprofunda a novela da escolha do vice, implorando de joelhos que Aécio assuma o papel, depois de aplastá-lo na corrida pela candidatura do PSDB.

4) Serra se afunda na novela da escolha do vice, convidando Álvaro Dias para sê-lo, e em seguida desconvida, porque o DEM faz cara feia e ameaça deixar a coligação.

5) Serra engole Índio da Costa como vice, um desastre como companheiro de chapa, que procura vincular o PT às Farc.

6) Serra anuncia que quem fuma é contra Deus.

7) Serra vai à missa e puxa Ave-Maria.

8) Serra declara Evo Morales cúmplice do narcotráfico, nem que seja por passividade.

9) Serra declara que o Mercosul é uma ficção.

10) Serra anuncia a criação do Ministério da Segurança e o fechamento da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República como compensação.

11) Serra passa a ser “o Zé”.

12) Serra volta a ser Serra.

13) Serra se declara o continuador de Lula, ao mesmo tempo em que é da oposição.

14) Mas Serra teve também brilhantes auxiliares: por exemplo, sua mulher diz a eleitor que Dilma é a favor de “matar criancinhas”.

15) Outros auxiliares entram em cena: O Estadão demite jornalista por delito de opinião e pretende fingir que nada aconteceu.

Ainda mais de auxiliares: lembremos o episódio da "massa cheirosa". E que a Folha de S. Paulo move céus e terra para acessar a ficha de Dilma no STM, depois de divulgar, antes, com estardalhaço, uma ficha policial falsa.

16) Serra se diz verde desde sempre, e que não vai privatizar nada.

17) Serra e próximos a ele brigam continuamente com jornalistas e institutos de pesquisa.

18) A campanha de Serra consegue proibir a circulação de um número da Revista do Brasil e ao mesmo tempo pede “segredo de justiça” para isso.

19) Serra acha “normal” que um bispo peça dois milhões de panfletos apócrifos à gráfica de uma pessedebista de carteirinha, e sem esclarecer quem doou os fundos para a empreitada.

20) Serra diz ser a favor da união cível de homossexuais (afinal algo sensato – nota da redação), que já existe, mas que “casamento é outra coisa”, é matéria de religião.

21) Serra diz que vai passar o salário mínimo imediatamente para R$ 600,00 e dar 10% de reajuste para os aposentados, sem explicar como.

22) Explode uma bomba na campanha de Serra: a bala era de papel, não de prata, e ao invés de explodir na cabeça de Dilma, simplesmente quicou na cabeça do pessedebista. A Globo e a tomografia fizeram o resto do papelão.

23) Serra pede às “moças bonitas” que digam a seus pretendentes que votem nele, para terem mais chances com elas.

24) O grande coadjuvante: o Papa entre na dança, dando uma declaração usada pelos serristas para reativar a questão do aborto. Foi uma extrema-unção, dada à candidatura já moribunda.

E por aí se vai. Deve haver outras pérolas que esqueci, na pressa de redigir. Mais tarde voltarei com novos comentários sobre os rumos e descaminhos desta eleição.


Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.

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