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sábado, 18 de setembro de 2010

Entrevista exclusiva de Lula ao iG



Não vou permitir que façam sacanagens com a Dilma, diz Lula

Lula afirma que como ex-presidente vai evitar que Dilma sofra o que ele sofreu, se ela for eleita; leia entrevista exclusiva ao iG

Eduardo Oinegue, Luciano Suassuna e Tales Faria | 17/09/2010 11:42

No gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dois umidificadores de ar atenuam a aridez da seca que atinge seu auge neste mês de setembro, em Brasília. Os termômetros da campanha eleitoral também indicam um tempo inclemente, como atestavam as manchetes de quinta-feira. Mas a duas semanas da primeira eleição presidencial em que seu nome não constará da urna eletrônica, Lula é o dono do ambiente num Palácio do Planalto que acabou de ser reformado como se fosse novo. E, olhando pelas janelas envidraçadas de onde se avista um pedaço da Praça dos Três Poderes, o seu humor anda bem distante do que se passa lá fora – nem árido como o clima brasiliense, nem áspero como a campanha eleitoral.
O presidente respira popularidade de até 80% de aprovação, segundo as últimas sondagens, e é daquele canto no terceiro andar do Planalto que ele se levanta para dar, com exclusividade ao iG, a mais reveladora entrevista sobre um tema que até hoje parecia uma incógnita: afinal, como será o Brasil do pós-Lula? Qual destino se reserva o presidente mais popular da redemocratização?
Ao longo de 60 minutos, Lula falou sobre os temas que você pode conferir nesse quadro abaixo. Clique no assunto desejado e veja a entrevista do presidente.
 No renovado gabinete presidencial, Lula abre a porta que dá acesso à sala de reuniões e entra falante. Cumprimenta todo mundo, acena para um assessor no fundo da sala, senta à cabeceira e cobra a lentidão na troca dos antigos microfones da grande mesa retangular.
"Oito anos de Fernando Henrique, mais oito do meu governo e o Planalto não consegue ter um microfone que tenha um botão para ligar e desligar", queixa-se. "Esse problema já foi resolvido, presidente", responde o assessor, apertando o botão de luz verde do novo aparelho.
Lula cobra então equipamentos que ele acreditava serem mais modernos, à semelhança do que viu no gabinete do governador do Rio, Sérgio Cabral. Reclama do enorme monitor discretamente escondido no vão da mesa e pede uma telinha embutida, como na mesa do governador do Rio.
Sempre que fala, o presidente mantém o contato visual com o interlocutor. Dos cinco políticos que passaram pelo cargo na redemocratização, ele é o que mais profundamente encara as pessoas. De José Sarney a Fernando Henrique Cardoso, também foi o que chegou à clássica entrevista de final de governo de forma mais brincalhona e extrovertida. É o que mais mantém assessores em volta, sinal de que a popularidade afasta a chamada solidão do poder, amplamente vivida por alguns de seus antecessores nos dias finais dos governos. Talvez por isso tenha sido explícito: “Quero ser lembrado”, disse o presidente ao iG.
Leia os principais trechos da entrevista concedida por Lula ao iG
Lula afirma que Serra vive hoje as mesmas dificuldades vividas por ele próprio na eleição de 1994. "É exatamente o que aconteceu comigo. Eu lembro o que era dificuldade em fazer discurso em 1994. Sabe, o Real bombando e eu tentando me esgoelar contra o Real. Eu fiquei muito tempo com a imagem de uma propaganda de um pãozinho que aparecia caído num prato assim, que o preço era nove centavos. Era mortal aquela propaganda. É muito difícil você fazer oposição."
O presidente diz que Dilma possui "inteligência acima da média" e elogia a capacidade da presidenciável petista de captar as informações. Rebate os críticos de sua candidata e reforça: "Eu estarei de prontidão para não permitir que não tentem fazer com ela todas as sacanagens que tentaram fazer comigo".
Lula conta que, ao longo de seus oito anos de mandato, nunca foi jantar em um restaurante e só conseguiu comparecer a um único casamento, de um sobrinho. E diz querer ser lembrado não  só pelas realizações. "Eu quero ser lembrado pelas coisas boas que eu fiz. E quero ser lembrado pelas coisas que eu não fiz. Eu quero, eu vou continuar sendo um político"
Em tom de brincadeira, o presidente lembra que, depois de deixar o governo, não terá mais auxiliares para "xingar".  Por isso, afirma, não quer tomar decisões precipitadas sobre que fará depois de deixar o Planalto. "Eu quero primeiro saber aonde é que vai doer. Eu quero voltar a ver jogo do Corinthians no Pacaembu, de preferência junto com a Gaviões ali, com a camisa do Corinthians. Sabe, então eu quero voltar a ser um cidadão normal."
O presidente reconhece que a crise do mensalão foi o momento mais difícil de seu governo, do ponto de vista político. "Eu quero estar vivo para ver o desfecho de tudo isso. Porque tem coisa um pouco esquisita que eu não consigo entender", afirmou
Lula diz que hoje seu humor está bem melhor do que antes da Presidência. "Eu só tenho motivo pra ter alegria. Todo santo dia, agradeço a Deus pela generosidade que Ele teve comigo. Sou uma pessoa hoje muito, muito, muito feliz"
Presidente relembra derrotas no Legislativo, como a derrubada da CPMF. "Foi uma votação muito mais por ódio, muito mais na perspectiva de me prejudicar e quem foi prejudicado foi o povo pobre deste País", disse. Se Dilma ganhar a eleição, segundo ele, uma das vantagens é que ela terá um Senado "mais arejado"
Ao falar de sua relação com o setor corporativo, presidente reforçou a declaração repetida em diversas ocasiões ao longo de seu governo. "Os  empresários nunca ganharam tanto dinheiro como ganharam no meu governo, nunca ganharam tanto dinheiro."
Lula voltou a falar sobre sua relação com os meios de comunicação. "Se dependesse de algumas capas de jornais, eu nessas alturas do campeonato teria zero nas pesquisas", ironizou, ao comentar a mudança do mercado de comunicação. "Eu compreendo a dificuldade de se fazer uma revista semanal. Antigamente você tinha um jornal que superava ela todo dia, a televisão e o rádio todo dia. Mas agora você tem a internet que supera a todo minuto."
Sobre a impressão que espera deixar quando sair do Palácio do Planalto, o presidente arrisca: "Tem muitas imagens para as pessoas lembrarem do governo Lula. Acho que cada um vai ter uma. É como se fosse uma fotografia pessoal".
"Lula atribui sua popularidade ao fato de ser "verdadeiro" com o povo brasileiro. "Primeiro, o populista não tem uma relação como a que eu tenho com o povo. O populismo é um ato de fazer política, de propostas, de cima para baixo, sem nenhuma relação orgânica como eu tenho com a sociedade"
Nem sempre, conta Lula, a percepção que um político tem de seus próprios discursos é a mesma que a sociedade tem. "Muitas vezes a gente pensa que um discurso nosso abafou. Sabe aquele negócio eu me amo. Você faz um discurso e você fala “a, foi”. Tem gente que fala assim: “eu arrasei”. Aí quando você coloca aquele discurso numa qualitativa, às vezes de dez pessoas que estão no grupo, nove não gostaram do discurso."
Lula aponta que a duração do mandato não condiz com as realizações que um governante deseja. "Às vezes, o mandato é muito pequeno, de quatro anos, de cinco anos. E hoje, no caso do Brasil, por exemplo, com mandato de quatro anos, nenhum presidente da República consegue fazer uma obra estruturante"

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