247 – Um discurso. Foi o suficiente para o ex-presidente Lula, de Paris, mexer totalmente no quadro político do momento e na cena eleitoral de 2014. Rugindo forte na posição de fera política acuada por denúncias de corrupção em sua gestão como presidente e entre os amigos e auxiliares mais próximos a ele, Lula também fez questão de mostrar as garras.
O anúncio, em Paris, de que está disposto a retomar as Caravanas da Cidadania equivale ao lançamento, na prática, de sua candidatura de volta ao Palácio do Planalto. Já se sabe, agora, como ele vai tentar, mas ninguém tem certeza se ele levará o projeto até o fim. Lula introduziu, a seu favor, na cena política atual e no quadro eleitoral de 2014, o elemento do suspense. De quebra, buscou sair da posição defensiva para a de protetor da presidente Dilma, que antecipou-lhe, na terça-feira 11, a primeira solidariedade diante das denúnicas do publicitário Marcos Valério.
Na tentativa de sair do corner ao qual foi imprensado, Lula despertou o velho instinto de critica do PT. Não por menos, o lider Jilmar Tatto não fala em outro assunto que não a lista de Furnas e o mensalão do PSDB. Entre apoiadores informais, redes sociais já vão sendo organizadas em defesa de Lula, com a adesão de milhares de internautas.
Por onde andar, Lula terá atrás de si toda a mídia. Será notícia, como já aconteceu nas outras edições das Caravanas, todos os dias. Agora, com a ampliação e pulverização da mídia, todos os minutos. Com elas, Lula volta ao noticiário como agente propositivo.
Agora que quebrou o silêncio, antes mesmo da saída da primeira caravana, o ex-presidente deverá, ao seu modo, em novos pronunciamentos e até em vídeos a serem postados na sua página virtual, participar novamente do que ele chama de "luta política".
Foi assim no ano passado, quando remexeu em todas as principais articulação do PT para a eleição municipal e carregou Fernando Haddad até o cargo de prefeito de São Paulo. Fora assim dois anos atrás, quando criou a candidatura, guiou a campanha e instalou a candidata Dilma Rousseff na Presidência da República. E antes, ainda: todas as vezes em que se viu pressionado em sua carreira, Lula obedeceu ao instinto de ultrapassar a elite para encontrar-se diretamente com a população.
Nos tempos de sindicalista, gostava das portas de fábrica tanto quanto das grandes assembléias. Como político, jamais abriu mão do corpo a corpo num país de dimensões continentais. À exceção de Luis Carlos Prestes, com a Coluna Prestes, nenhum outro político brasileiro tentou o mesmo caminho. Assim como Prestes, que era perseguido pelos militares, Lula se diz perseguido por seus adversários. As semelhanças não são meras coincidências.
As Caravanas da Cidadania são a expressão mais bem elaborada da maneira de Lula encontrar-se com o seu eleitor. Abertas a improvisos, mas formatadas com organização, elas permitem que o ex-presidente adote pose de candidato sem sê-lo necessariamente. Em tese, Lula, com sua série já executada de incursões de ônibus pelos rincões do Brasil, colhe subsídios para entender melhor o país. Na prática, vai juntando apoios eleitorais, quebrando resistências, formando alianças em cada município e distrito. Uma amarração direta, forte, que o ajudou a vencer a eleição presidencial por duas vezes. O movimento do ex-presidente, goste-se dele ou não, parece mesmo uma jogada de mestre.
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