Xeque - Marcelo Bancalero
Pois bem...
Antes de criticar, é preciso uma visão clara do cenário econômico.
Existem problemas?
Claro que existem!
Mas no frigir dos ovos...
Na hora do vamos ver, poderemos saber se deu certo ou não a ousadia do PT, em bagunçar essa economia.
Agradeço a dica do comp@ Elzivir Azevedo Guerra que postou em meu mural um elucidativo texto sobre o assunto em questão.
Leia!
Não se permita a manipulação midiática.
Você não precisa dos Willians da Globo pra Sadenberg de nada!
Não Miriam Leitão neste jornalismo sujo irresponsável que só pensa em denegrir o próprio país...
De um chance para a verdade!
Leia o bom texto do Marcel Stenner sobre “crise” econômica atual. Gostei das figuras criadas de escada rolante e do omelete para explicar o modelo da casa grande e senzala e a origem da “crise” econômica atual. Estou de acordo com sua visão e abordagem da atual “crise” econômica no Brasil.
Será que Levy tem ovos?
Marcel Stenner
A verdade é que o PT desorganizou a estrutura econômica do país. Bagunçou tudo, transformou em algo que não era. Isso é um fato a ser reconhecido e comemorado. Finalmente algum partido o fez. O PT cumpriu exatamente o que prometeu para o povo brasileiro. O PT quebrou os ovos e fez a omelete.
Durante a década de 90 parecia impossível acreditar que um partido seria capaz de desconstruir a lógica econômica e social do país. A governabilidade do Brasil esteve sempre condicionada a um consenso político que reinava absoluto, pautado por um único e perverso compromisso: jamais quebrar os ovos para fazer omelete. Ou seja, aceitar a incapacidade estatal de atacar simultaneamente os três grandes problemas nacionais: i) garantir a estabilidade monetária, ii) reduzir as desigualdades sociais e iii) implementar um projeto de desenvolvimento nacional.
Em 1996, Ciro Gomes e Mangabeira Unger afirmaram no livro O Próximo Passo, que a sociedade e a economia brasileira podem ser divididas em duas. A primeira representava a economia avançada, cada vez mais integrada na economia e na cultura dos países desenvolvidos. A segunda encontrava-se aprisionada à margem do sistema, sem acesso aos mercados, ao capital e à tecnologia. Parecia impossível nos anos 90 solucionar os conflitos decorrentes dessa dualidade, pois seriam necessárias as gigantescas transferências para reduzir a desigualdade social. As forças que comandam a parte desenvolvida do Brasil jamais permitiriam, nem poderiam permitir, que fossem realizadas as transferências necessárias à equalização do sistema fossem realizadas, sob o risco de desorganizar profundamente a economia nacional. E isso foi exatamente o que aconteceu.
Segundo os autores, nas condições brasileiras, qualquer tentativa realista de redução das desigualdades sociais exigiria a revisão do modelo econômico até então instalado. Tal revisão deveria afetar as instituições econômicas e a relação entre o Estado e cadeia produtiva. Era necessária uma alternativa produtiva que integrasse a maioria dos brasileiros aos centros dinâmicos de nossa economia. Não de uma forma caridosa e compensadora como defendiam os partidários da social democracia, mas estrutural e profunda.
Eis que o PT veio ao poder e nos últimos 12 anos efetivou a transferência de renda necessária. Criou bolsas e programas para tudo e todos que estavam à margem do processo. Os mercados se transformaram. As curvas de demanda foram deslocadas. As políticas de conteúdo local alteraram nossa matriz insumo-produto fortalecendo encadeamentos produtivos descartados pelos governos anteriores. Empreendimentos de porte inimagináveis foram instalados em locais fora do eixo tradicional. Novos marcos regulatórios foram criados ou modificados, sofisticando as instituições econômicas e a transformando a forma de se fazer negócios no Brasil.
Tantas mudanças, em um curto período histórico, naturalmente criaram atritos, fazendo que alguns segmentos da economia se entrincheirassem. Afinal de contas, é justo reconhecer que um ambiente de estabilidade econômica é necessário para garantir a realização de investimentos privados. Entretanto a maioria dos agentes econômicos tendem a confundir estabilidade econômica com absoluta ausência de mudanças nas regras e relações vigentes.
Obviamente que mudanças estruturais dessa magnitude tem um custo. É claro que no curto prazo não é eficiente instalar atividades econômicas complexas onde não há tecnologia e infraestrutura. Assim também o é quando se decide por realizar pesados investimentos em infraestrutura onde não há atividade econômica, com o objetivo de induzí-la. Ou seja, o PT substituiu o paradigma tecnocrático do que era economicamente viável para o que era necessário ou desejável para a população brasileira à margem do sistema. Foi a recusa do pecado original que condiciona países a serem eternamente exportadores de insumos e importadores de bens industrializados. Ou seja, a recusa de que as vantagens e desvantagens comparativas são imutáveis e que devem ser respeitadas. O Brasil decidiu que queria ser outro. Como bem colocaram Mangabeira e Ciro em 1996, trair o Brasil é aceitá-lo como é. Assim, a ordem social da Casa Grande e da Senzala foi colocada em cheque.
Ainda que dá boca pra fora, até os partidos mais à direita sempre defenderam a necessidade de promover transformações sociais no país. No entanto divergiam substancialmente quanto à forma. Assim, o conceito elitizado de transformação social era vendido como um processo no qual "o importante não é dar o peixe, mas ensinar a pescar". Mas por trás dessa ideia barata escondia-se a preocupação dos setores conservadores com o bom funcionamento da escada rolante, historicamente instalada no Ministério da Fazenda.
Mas que porra de escada rolante é essa? A escada rolante é a única condição que importa para as elites brasileiras quando o assunto é desenvolvimento econômico. Segundo essa condição, o governo pode fazer o que quiser desde que a escada não pare de funcionar. A lógica é simples: há uma fila, e para que o de baixo suba , o que está mais alto tem que subir também. Assim, suas distâncias e privilégios se mantém constantes e proporcionais. As classes mais abastadas alimentam um dogma quase religioso de que merecem subir, acima das classes mais baixas, pelo simples fato de que, em tese, pagam maior volume de impostos. Mas a verdade é que se a escada rolante parar de funcionar o sistema Casa Grande - Senzala entra em colapso.
No primeiro mandato Lula comprometeu-se a prezar pela estabilidade econômica e, assim conseguiu convencer as temerosas forças que comandam a parcela desenvolvida a permitir que as transferências necessárias para o desenvolvimento social fossem feitas. No entanto, não teve como garantir que os mais altos degraus da escada subissem na mesma velocidade que os de baixo. O cenário econômico tornou-se menos favorável e escada rolante passou a funcionar mal para as classes médias e altas, que passaram a sentir as classes baixas mais próximas, quase fungando em seu cangote.
A regra centenária entrou em colapso. Pobre andou avião, comprou carro popular e foi para o exterior. Mas a classe média não comprou Ferrari, yatch, perdeu a empregada que foi pra universidade e ainda teve que continuar voando na classe econômica. Se os pobres estivessem na classe econômica e eles tivessem alcançado a classe executiva, estaria tudo em paz. Eu costumo dizer que o problema não é o capitalismo, mas a fúria dele. E a quebra da escada rolante é a coisa mais capaz de enfurecer a elite brasileira.
Hoje estamos em um momento de transição histórica. Uma transição entre o Brasil social que fomos e o que ainda seremos. Alguns chamam de crise. Mas há uma diferença substancial entre crise e transformação. A Revolução Francesa também foi chamada de crise durante algum tempo. O Brasil não está passando por uma crise sistêmica, mas sim por uma crise construtiva, necessária ao processo de maturação de um país desenvolvido. Os maus resultados da economia representam a fatura das profundas transformações socioeconômicas. Os indicadores econômicos expressam uma quebra de paradigma e uma reestruturação da organização política e econômica do Brasil. Este é o preço do sucesso das políticas desenvolvimentistas. Não havia como promover essas transformações sem arcar com seus pesados custos. Não há lanche grátis, como dizem os economistas ou, em nosso caso tupiniquim, não deveria ter omelete grátis. A oposição alimenta a ilusão de que é possível desfazer a omelete e retornar para o sistema Casa Grande-Senzala. Para isso, apostaram todos os seus ovos na cesta de Joaquim Levy. O competente economista assumiu seu cargo com uma missão fortemente política, mas que parece muito técnica: ou conserta a escada rolante ou pare de quebrar os ovos.
Será que Levy tem ovos para isso?
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