O Estadão dá um passo importante no sentido de parar de debochar do seu leitor ao anunciar apoio formal à candidatura José Serra a presidência da república, pois qualquer pessoa com um mínimo de discernimento já tinha percebido que a linha editorial do jornal, assim como outros veículos da velha mídia, sempre teve lado político, apenas não tinham a coragem e o caráter para reconhecer isso.
Com a radicalização na reta final dessa campanha e a constatação de que se não interferissem diretamente sofreriam novo revés eleitoral – o que deixaria seus aliados cada vez mais distantes da administração dos recursos públicos destinados a propaganda governamental, que os sustentou por décadas – os donos dos veículos de imprensa se viram obrigados se engajar na campanha de forma menos dissimulada, o que acabou gerando uma pressão por parte dos seus leitores para que assumissem o posicionamento político-partidário mal disfarçado. E foi o que o Estadão acabou de fazer.
Essa é uma atitude que várias pessoas de bom senso cobravam do Estadão e dos demais veículos de mídia que reconhecidamente fazem campanha para Serra, mas não se assumem, no entanto, não isenta o jornal da obrigação moral de fazer um jornalismo sério, sem prejudicar ou beneficiar um dos lados.
De fato, um veículo de comunicação pode assumir posição partidária, e isso é aceito em estados democráticos. Pessoalmente não vejo problema se o apoio ficar restrito ao espaço editorial do veículo de comunicação, sem contaminar o espaço reservado para o que deveria ser apenas jornalismo profissional e apartidário.
É fato também que o partidarismo do Estadão (e da Folha, do Globo, da Veja…) até hoje não ficou resumido ao espaço editorial e por diversas vezes ficou nítido em matérias ditas jornalísticas. O jornal ainda repercutiu acriticamente diversas “reportagens” onde outros veículos de imprensa atacavam desafetos políticos em comum, mesmo quando essas reportagens careciam de um mínimo de comprovação, sem contar com a piegas campanha de autocomiseração que o jornal promoveu para se fazer de vítima de censura quando na verdade o tinham sido punidos por cometer crime de violar dados de investigações policiais protegidas por sigilo judicial.
O fato do Estadão sair do armário não pode ser considerado um ato de grandeza e de dignificação democrática porque vem embutido em um editorial raivoso, como vários outros anteriores, em que aposta na demonização do adversário como justificativa para o que considera uma “atitude extrema em defesa da democracia”.
Ao apontar virtudes éticas e morais que o seu candidato não possui mostra que tem pouco apreço pela verdade, porque se contam aos montes os escândalos de corrupção envolvendo o partido que escolhem apoiar e partidos aliados de norte a sul do país, mesmo longe do governo federal por oito anos.
Gostaria apenas de saber da família Mesquita e dos administradores do grupo se vão se sentir eticamente liberados de obter mais uma vez a partir de agora, sem concorrência pública, contratos de assinatura anual de milhares de exemplares de seus jornais com governos administrados pelo PSDB, como aconteceu no governo de São Paulo administrado pelo Serra. Só lamento se os seus conceitos éticos forem tão elásticos quanto os que norteiam suas definições de imparcialidade e isenção jornalística.
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