Xeque - Marcelo Bancalero
Talvez a galerinha das manifestações precise de uma aula de história!
Com um número de reivindicações pautado mais pela mídia , do que pela realidade brasileira, que levantou bandeiras pré-fabricada por esta mídia, sem mesmo compreender do que se tratava o tema proposto por revistas e empresas do PIG, como a PEC 37 por exemplo que poderia impedir a corrupção de uma PGR que engaveta bilhões em danos públicos, e manipula nos bastidores uma mentira gerada à partir de outra, como o falso desvio de dinheiro público do Banco do Brasil.
Mas o problema é bem pior...
Temos além de um julgamento politico e de exceção na AP 470, a completa falta de personalidade de alguns ministros e de caráter e ética em outros.
Além de corrermos o risco de voltarmos aos tempos da velha ditadura com presos claramente políticos!
Isso mesmo...
Presos políticos!
Por que se os brasileiros permitirem, que saciem sua sede legítima de justiça, mandando pra cadeia os líderes do partido que mais fez por nosso país, é isto que estará aprovando para o Brasil...
O retorno da história que nunca nos trouxe orgulho!
Tornando esse ponto fora curva, um local no túnel do tempo que nos levará de volta ao passado vergonhoso que já havíamos superado.
Leia os artigos, siga os links e relembra história no terceiro artigo proposto sobre a perseguição politica no Brasil.
E entre para o grupo #PresosPolíticosNuncaMais https://www.facebook.com/groups/168987956625528/
Talvez a galerinha das manifestações precise de uma aula de história!
Com um número de reivindicações pautado mais pela mídia , do que pela realidade brasileira, que levantou bandeiras pré-fabricada por esta mídia, sem mesmo compreender do que se tratava o tema proposto por revistas e empresas do PIG, como a PEC 37 por exemplo que poderia impedir a corrupção de uma PGR que engaveta bilhões em danos públicos, e manipula nos bastidores uma mentira gerada à partir de outra, como o falso desvio de dinheiro público do Banco do Brasil.
Mas o problema é bem pior...
Temos além de um julgamento politico e de exceção na AP 470, a completa falta de personalidade de alguns ministros e de caráter e ética em outros.
Além de corrermos o risco de voltarmos aos tempos da velha ditadura com presos claramente políticos!
Isso mesmo...
Presos políticos!
Por que se os brasileiros permitirem, que saciem sua sede legítima de justiça, mandando pra cadeia os líderes do partido que mais fez por nosso país, é isto que estará aprovando para o Brasil...
O retorno da história que nunca nos trouxe orgulho!
Tornando esse ponto fora curva, um local no túnel do tempo que nos levará de volta ao passado vergonhoso que já havíamos superado.
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O SUPREMO JUIZ É VOCÊ, BRASILEIR@ !
Os motivos de Joaquim Barbosa não dar prazo para a defesa
ter, 09/04/2013 - 12:36 - Atualizado em 02/09/2013 - 05:21
Não se iludam os Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) com a aparente unanimidade da mídia em relação ao julgamento do mensalão. O enquadramento das redações e colunistas impediu manifestações maiores de dúvida sobre a isenção dos magistrados. Fosse em tempos de maior pluralidade, a mídia teria servido de freio a alguns abusos cometidos.
Além disso, todo tema complexo permite o exercício do arbítrio pelo especialista – pela óbvia dificuldade em se entrar nos meandros da discussão e identificar as vulnerabilidades das conclusões.
Quando os primeiros questionamentos foram feitos – ainda em plena efervescência do julgamento -, não foram levados a sério por indicarem inconsistências tão absurdas, que soavam inverossímeis.
Muitas pessoas com quem conversei, simpáticas a uma condenação exemplar, acreditavam que entre as dezenas de milhares de páginas do inquérito haveria evidências capazes de derrubar as críticas.
A questão é que o tempo passou, houve a oportunidade de trabalhos mais alentados e meticulosos sobre o inquérito. E as críticas, em vez de esclarecidas, foram aprofundadas.
Cada vez mais é evidente que a análise das acusações tem produzido dúvidas cada vez maiores nos colunistas que efetivamente contam.
Mesmo com a imensa dose de cautela, compreensível nesses tempos bicudos, houve a manifestação de Elio Gaspari, avalizando o trabalho em que Raimundo Pereira desconstrói as acusações contra João Paulo Cunha. Direto, Jânio de Freitas explicita as enormes dúvidas em relação as acusações contra Henrique Pizzolatto.
Nenhum dos dois pode ser acusado de petista, assim como outros jornalistas de renome que, fora das grandes redações, puderam exercitar livremente sua opinião.
A indignação decorre do abuso de poder. E, como tal, são caracterizadas as ações em que os magistrados colocam sua vontade acima dos fatos analisados.
É bem possível que as agências de publicidade tivessem pago pedágio ao PT, pelas contas conquistadas. Mas não foi isso o que a acusação apurou.
Tratou como desvio a verba de publicidade da Visanet ignorando um relatório detalhado do Banco do Brasil indicando todas as fontes de aplicação dos recursos.
Atribuiu a responsabilidade total da destinação das verbas a Henrique Pizzolatto, ignorando documentos que demonstravam expressamente que as decisões eram colegiadas, com a participação de representantes de outros sócios da empresa.
Salta aos olhos de qualquer jornalista o absurdo de considerar, exclusivamente nas operações da Visanet, os BVs (bônus de veiculação, o dinheiro que as agências recebem dos órgãos de mídia onde anunciam) como indício de corrupção. E não estender esse julgamento a todo o universo de BVs. Ou não exigir a devolução do dinheiro dos beneficiados – grandes órgãos de mídia.
No caso de João Paulo Cunha, tratou como ocultação o fato de não ter ido receber pessoalmente os R$ 50 mil do PT, mas enviado a esposa, que apresentou RG e assinou o recibo. E ignorou totalmente a comprovação do uso dos recursos para pesquisas eleitorais.
A postura de Joaquim Barbosa – impedindo prazo maior para a apreciação da defesa – não se deve ao seu conhecido espírito de torquemada. É mais que isso: é receio de que as inconsistências das acusações sejam expostas agora, não mais em matérias de blogs, mas nos próprios autos do processo.
É paura, medo de uma discussão na qual o clamor da mídia não servirá mais de respaldo para o uso do poder imperial.
No coração do seu tempo: a vida de Joaquim Câmara Ferreira
Por Augusto C. Buonicore
Neste mês de setembro comemoramos os cem anos do revolucionário Joaquim Câmara Ferreira. Sua vida foi dedicada à defesa dos interesses do Brasil e do seu povo. Muito jovem ingressou nas fileiras do Partido Comunista do Brasil (então PCB) e engrossou as lutas contra o nazi-fascismo e o Estado Novo. Por isso, foi preso e brutalmente torturado. Durante as décadas de 1940 e 1950 esteve à frente da imprensa partidária em São Paulo. Resistiu à bala quando a polícia tentou ocupar a redação e a gráfica do jornal Hoje, que ele dirigia. Rompido com o PCB, durante a ditadura militar, foi um dos fundadores da Ação Libertadora Nacional (ALN). O comandante Toledo – seu nome de guerra durante a guerrilha urbana – participou do rapto do embaixador estadunidense, que garantiu a libertação de inúmeros prisioneiros políticos. Novamente preso e torturado, desta vez morreu nas mãos dos seus algozes. Desde então, seu nome entrou para a galeria de mártires do povo brasileiro e virou referência obrigatória para todos aqueles que não aceitam a ditadura e a dominação imperialista. Viva a memória de Joaquim Câmara Ferreira!
Câmara Ferreira, Prestes, Pomar e Zé Duarte em comício.
Dos primeiros anos à luta contra o fascismo
Joaquim Câmara Ferreira nasceu em Jaboticabal no dia 5 de setembro de 1913. Seu pai, o engenheiro Joaquim Batista Ferreira Sobrinho, havia sido por três vezes prefeito dessa pacata cidade do interior paulista. A mãe, Cleonice Câmara, morreu depois de apenas vinte dias de ele ter nascido.
Seguindo o caminho paterno, foi estudar na Escola Politécnica de São Paulo. Porém, no segundo ano, abandonou a engenharia e se transferiu para o curso de filosofia na Universidade de São Paulo (USP) que estava se iniciando. Também estava no início o seu engajamento político junto ao movimento comunista.
Certo dia indo para a Politécnica viu alguém que atentamente lia um livro de Vladimir Ilitch Lênin. O jovem curioso se aproximou e começou uma discussão sobre o socialismo e o marxismo. O estranho era o comunista Adolfo Roitman – que já havia passado pelas prisões do novo regime de Vargas. Eles marcaram outros encontros, nos quais conheceria Noé Gertel e Caio Prado Jr.
Em 1932, ao lado desses novos companheiros, organizou um núcleo do Socorro Vermelho Internacional, órgão de ajuda e solidariedade aos perseguidos políticos. No ano seguinte, estaria militando ativamente no Partido Comunista do Brasil, então PCB. Quem o recrutou foi Sebastião Francisco, secretário de organização do comitê estadual de São Paulo. A veterana comunista Sara Mello contou ao historiador Luiz Henrique de Castro Lima o que aconteceu: “Câmara falou o que esperava (do Partido) e esse companheiro disse: ‘Então, você pode se considerar hoje membro do Partido Comunista do Brasil’. Foi a maior sensação da vida de Câmara (...) o dia em que foi considerado membro do Partido Comunista do Brasil”.
Aqueles eram anos de ascensão do nazi-fascismo. Em janeiro de 1933 Hitler assumiu o poder na Alemanha. No Brasil, os integralistas começavam a se assanhar. Reagindo a isso, em 1934, os comunistas brasileiros criaram o “Comitê de luta contra a reação, o fascismo e as guerras imperialistas”, que ficaria conhecido simplesmente como “Comitê antiguerreiro”. À frente desse trabalho estava Joaquim Câmara Ferreira. Devido ao seu esforço, ele foi cooptado para o comitê estadual. Tinha então 21 anos de idade.
Uma das passagens mais expressivas do combate ao integralismo no país foi a Batalha na Praça da Sé,ocorrida em 7 de outubro de 1934. Contra uma marcha programada pelos integralistas – que pretendiam repetir aqui a marcha sobre Roma que deu o poder a Mussolini – comunistas, trotskistas, socialistas, anarquistas e tenentistas de esquerda se uniram e foram à luta. Nas ruas do centro de São Paulo estourou um conflito armado e as hostes integralistas de Plínio Salgado tiveram que se dispersar. Foi a primeira grande vitória da frente única antifascista.
Câmara Ferreira também participou da formação da Aliança Nacional Libertadora (ANL), que era presidida regionalmente por Caio Prado Jr. A ANL conheceu um rápido crescimento, mas logo foi colocada na ilegalidade pelo governo Vargas. Os comunistas reagiram organizando levantes armados, baseados na sua influência nos quartéis, no Rio de Janeiro, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
Os movimentos foram derrotados e iniciou-se uma dura repressão contra a esquerda. Foram encarcerados milhares de militantes e dirigentes comunistas, entre eles Luiz Carlos Prestes e Antonio Maciel Bonfim, secretário-geral do PCB. Diante dessa situação, o que restou do secretariado do Comitê Central, comandado por Lauro Reginaldo da Rocha, o Bangu, se refugiou no Nordeste. Em 1937 esse órgão se transferiu para São Paulo.
No mesmo ano o Partido viveu uma cisão de vulto. O mote foram as opções colocadas diante das eleições presidenciais. O Comitê Regional de São Paulo, liderado por Hermínio Sachetta, defendia o apoio à candidatura do paulista Armando Salles de Oliveira, mas na condição de que ele aceitasse um programa democrático assentado na anistia, aplicação da Constituição de 1934 e combate ao integralismo. Além do atendimento de algumas reivindicações populares, como o combate à carestia e pelo aumento dos salários. Ao contrário, o secretariado do Comitê Central definiu-se pela candidatura do nordestino José Américo de Almeida. Isso não deveria estar vinculado a nenhuma condição preliminar, a não ser à oposição ao integralismo em ascensão e à garantia da própria eleição. Aos poucos essa tese foi conseguindo a adesão da maioria dos comitês partidários. Contudo, o que mais contribuiu para isso foi a posição assumida pela Internacional Comunista a seu favor. Os que discordavam passaram a ser acusados como trotskistas,coisa que efetivamente não eram e acabaram expulsos do Partido. Câmara Ferreira, desde o primeiro momento, tomou posição ao lado da maioria do Comitê Central, combatendo o grupo de Sachetta.
Aquela foi uma disputa vã, pois não haveria eleição presidencial naquele ano, nem nos próximos. Em novembro de 1937, Vargas daria um golpe e criaria o Estado Novo. Mas a cisão já estava feita e as acusações se multiplicavam de lado a lado. Muitos anos mais tarde Sachetta e Câmara Ferreira se uniriam novamente contra outra ditadura: a militar.
Das masmorras do Estado Novo às trincheiras do jornal Hoje
Em 1939 Câmara Ferreira foi convocado para dar assistência ao Partido em diversos estados nordestinos. Algo muito perigoso tendo em vista a ofensiva policial desencadeada contra o PC do Brasil. Na volta, em março de 1940, foi preso no Rio de Janeiro. Todos os dirigentes nacionais estavam nas mãos da repressão e Partido ficara acéfalo. Segundo Gertel: “Câmara Ferreira foi torturado barbaramente com palmatória, afogamento, pau-de-arara e estiletes de madeira enfiados nas unhas”.
Apesar do suplício, ele não deu nenhuma informação que pudesse prejudicar o Partido. Um dia quebrou uma janela da delegacia – cortando os pulsos – e gritou: “estão me torturando! Viva Prestes!”. Por seus ferimentos, que impediam de usar uma das mãos, teve que ser operado ainda na prisão. Aquela seria uma experiência dolorosa que o marcaria por toda a sua vida.
Ele foi condenado a sete anos de prisão pelo Tribunal de Segurança Nacional e por dois anos e meio permaneceu incomunicável na Casa de Detenção. Antes de ser preso havia conhecido Leonora Cardieri e tornaram-se namorados. O casamento seria feito na prisão de Ilha Grande em 1944. Solto um mês antes da anistia foi trabalhar no Diário de São Paulo. Entre 1946 e 1948 nasceram seus dois filhos: Roberto e Denise.
Ao contrário da maioria dos presos políticos – como Marighella –, Câmara Ferreira defendia a necessidade da Conferência da Mantiqueira, ocorrida em 1943, e o processo de reorganização do Partido que vinha sendo realizado por homens como Diógenes Arruda Câmara, Amarílio Vasconcelos, Maurício Grabois, Pedro Pomar, João Amazonas e Mário Alves.
Depois da anistia, em 18 de abril de 1945, e da legalidade do PCB, Câmara se tornou um dos principais dirigentes do partido em São Paulo. Foi um dos responsáveis pela criação de diretor-redator do jornal paulista Hoje. A publicação era diária e, entre 1945 e 1947, chegou a disputar a venda com grandes jornais como O Estado de S. Paulo.
Em janeiro de 1947, os comunistas paulistas tiveram uma grande vitória elegendo 11 deputados estaduais e dois federais, além de ajudarem a eleger Adhemar de Barros para o governo de São Paulo. Essa foi uma vitória de Pirro, pois logo ele se voltaria contra o Partido apoiando a sua cassação (1947) e de seus deputados (1948). A partir daí a repressão do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) paulista seria ainda mais dura com seu ex-aliado.
Um dos momentos mais dramáticos desses enfrentamentos foi a invasão da redação e oficinas do Hoje, ocorrida em 2 de janeiro de 1948. De madrugada, um delegado e dezenas de policiais compareceram à porta do jornal, comunicando que aquela edição seria apreendida. Câmara Ferreira exigiu um mandado judicial, que eles não tinham. Diante disso, tomou a decisão de resistir nem que fosse à bala. Dentro das oficinas havia mais de 40 empregados e o deputado comunista Estocel de Moraes.
Em seguida, estourou um tiroteio que durou várias horas. O conflito terminou próximo ao amanhecer quando, já sem munição e num ambiente saturado de gás lacrimogêneo, os resistentes tiveram que se render. À exceção de Estocel, que tinha imunidade parlamentar, todos os demais foram conduzidos ao DOPS. Num primeiro julgamento Câmara foi condenado a um ano de prisão.
Quando saiu da cadeia ele reassumiu a direção do Partido em São Paulo e do Notícias de Hoje – novo nome adotado pelo jornal que havia sido proibido pela polícia. Este se transformaria no porta-voz dos operários durante a greve geral que sacudiu São Paulo em 1953. Nos dias da paralisação as vendas subiram de quatro mil para 25 mil exemplares por dia. Por trás disso estava o valente Câmara Ferreira. Entre 1948 e 1953, a linha do Partido foi marcada pelo esquerdismo e por uma retórica radicalizada contra os governos Dutra e Vargas. E isso acarretaria aos editores dos jornais comunistas – como Câmara Ferreira – muitos processos e breves detenções.
Crise do partido comunista ao golpe militar
Em meados da década de 1950, ninguém imaginava que o movimento comunista estava às portas de uma grande crise. Tudo começou em 1956 quando, no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), Kruschev denunciou os crimes cometidos por Stalin. Este dirigente havia adquirido uma condição de santidade para milhões de comunistas em todo o mundo. A notícia transmitida inicialmente pela imprensa burguesa ocasionou um choque profundo e uma fratura ideológica que teria inúmeras consequências.
Momentaneamente, no Brasil, houve o fortalecimento de uma corrente acusada de liquidacionista, pois pregava a extinção do PCB ou sua transformação num partido tipicamente nacionalista. Seu principal expoente foi Agildo Barata – um dos heróis do Levante de 1935. Essas ideias, contudo, foram rapidamente derrotadas no interior da direção e Agildo expulso.
Juntamente com a crítica ao chamado stalinismo, o XX Congresso trouxe uma nova linha política que, segundo alguns, flertava perigosamente com o reformismo. As novas palavras de ordem eram: coexistência pacífica, competição pacífica e transição pacífica ao socialismo. Uma das consequências dessa mudança de rumo foi a substituição das lideranças apegadas à antiga política, consideradas esquerdistas, dogmáticas e stalinistas.
Nessa toada, em 1957, o Comitê Central destituiu do secretariado os militantes históricos Diógenes Arruda Câmara, João Amazonas, Maurício Grabois. No ano seguinte, a direção nacional aprovou a Declaração de Março que representava uma adaptação da linha do partido brasileiro aos novos ventos vindos da União Soviética. Agora o regime de democracia popular deveria ser conquistado gradualmente através de sucessivas reformas e de diversos governos de caráter democrático e nacionalista – sem a necessidade de uma ruptura revolucionária. Tal posição não obteve o consenso entre os comunistas brasileiros e gerou algum descontentamento.
As consequências da crise aberta entre 1956 e 1957 foram: o fechamento da União da Juventude Comunista (UJC) e da maioria dos jornais regionais, que sofriam com a deserção ou afastamento de seus jornalistas abalados com as denúncias contra Stalin. O Notícias de Hoje também deixou de existir. O semanário Voz Operária – órgão oficioso do PCB – se transformou em Novos Rumos e Câmara Ferreira assumiu a chefia de sua sucursal paulista.
Ele, num primeiro momento, se alinhou à nova política partidária. Por isso, segundo Gorender, esteve entre aqueles que ajudaram na elaboração das teses do V Congresso do PCB, que seguia no mesmo rumo da Declaração de Março de 1958. Depois de sua publicação, a discussão, através da Tribuna de Debates, foi muito acesa e radicalizada. Colocaram-se em trincheiras opostas antigos camaradas. De um lado, Prestes, Marighella, Gorender, Câmara Ferreira, Mário Alves; de outro, Amazonas, Grabois, Pomar, Lincoln Oest e Carlos Danielli.
O resultado do confronto político e ideológico foi que a linha reformista saiu vitoriosa. Arruda, Amazonas e Grabois perderam seus lugares no Comitê Central. E Joaquim Câmara, alinhado à maioria, passou a compor o órgão dirigente nacional. As coisas pareciam caminhar para uma estabilização.
No segundo semestre de 1961 a crise no interior do Partido voltaria a ser agravar. Em agosto, a direção registrou novo Programa e Estatuto no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Entre as mudanças propostas estava a alteração do nome do Partido: de Partido Comunista do Brasil passaria a se chamar Partido Comunista Brasileiro. Dos documentos desapareciam termos como marxismo-leninismo, internacionalismo proletário e o objetivo final do comunismo. Tudo isso visando à legalização.
Cerca de cem militantes descontentes enviaram uma carta ao Comitê Central defendendo a retirada dos documentos ou a convocação de um novo congresso para que fossem discutidas as divergências surgidas. Diziam que com aquelas medidas, na prática, a direção havia criado um outro partido. A resposta foi a punição e expulsão dos descontentes, que reorganizariam o Partido Comunista do Brasil – agora PCdoB – em fevereiro de 1962. Joaquim Câmara Ferreira ficou no PC Brasileiro. A partir de então o país passaria a ter dois partidos comunistas.
No interior da maioria pecebista gradualmente foram surgindo diferenças de opiniões. Dirigentes que haviam apoiado as teses do congresso agora demonstravam algumas dúvidas e propunham uma linha política um pouco mais à esquerda. Essas diferenças ainda pouco percebidas pela militância se tornariam explosivas com o golpe militar. A incapacidade de prever o que estava acontecendo e a inexistência de um movimento mais amplo de resistência popular aos golpistas geraram descontentamentos nas fileiras do PC Brasileiro. Muitos começaram a procurar outras alternativas.
Após a implantação da ditadura, o Comitê Central se dividiu. Em maio daquele ano a Comissão Executiva aprovou o documento Esquema para discussão. Ele trazia uma crítica às posições conciliadoras adotadas pelo PCB durante o governo Goulart e as responsabilizava pela derrota ocorrida quase sem luta. Essa resolução conseguiu ser aprovada porque os dirigentes que estavam disponíveis no Rio de Janeiro eram ligados à esquerda partidária, como Gorender, Mário Alves, Câmara Ferreira e Jover Telles. Quando Prestes e outros membros da direção vinculados a ele – que eram a maioria – tomaram pé da situação procuraram reverter a decisão anterior.
O embate direto entre as duas linhas ocorreu durante a primeira reunião do Comitê Central e venceu aquela capitaneada por Prestes. O Esquema seria duramente criticado e impedido de circular, acusado de esquerdista. Seus defensores foram derrotados e perderam o espaço que tinham na direção nacional. O mesmo não aconteceu nos principais comitês partidários, especialmente nos estados de São Paulo e Guanabara. Ali a esquerda aumentou o seu prestígio e se preparou para o combate.
Às vésperas do VI Congresso do PCB o debate tomou nova dimensão e se radicalizou. A situação na direção nacional não era nem um pouco tranquila. Na Conferência de São Paulo, por exemplo, mesmo com a presença de Prestes, as teses oficiais foram derrotadas – conseguindo apenas 4 votos entre os 37 delegados presentes. Foi uma vitória consagradora para Marighella e Câmara Ferreira. Diante desse resultado desfavorável, o Comitê Central simplesmente interveio e impôs outra direção regional. O Congresso se realizaria em dezembro de 1967, mas sem a participação dos delegados da oposição. Uns haviam sido expulsos antes e outros não haviam recebido os pontos corretos que os levariam ao conclave. Esses métodos foram usados por aqueles que se diziam críticos do stalinismo.
Naquele processo conturbado surgiu a chamada “corrente revolucionária” que, num primeiro momento, congregava todos os descontentes com a linha reformista predominante. O que os unificava era a proposta de luta armada como forma privilegiada de pôr fim ao regime militar. Em breve, esse grupo explodiria e a partir dele se formariam diversas organizações clandestinas, como Ação Libertadora Nacional (ALN), o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e as Dissidências da Guanabara e São Paulo (DIs).
Resistindo de armas nas mãos
Marighella e Câmara Ferreira criariam o Agrupamento Comunista de São Paulo que logo daria origem à Ação Libertadora Nacional (ALN). Câmara foi o grande organizador tanto do “agrupamento” como da ALN, enquanto Marighella era o agitador e aquele que tinha maior expressão pública. Vários de seus camaradas afirmaram que Câmara Ferreira, ao contrário de Marighella, se mostrou inicialmente reticente em relação às teses militaristas e foquistas desenvolvidas por Régis Debray. Mas mesmo assim – seguindo a corrente – acabou mergulhando de corpo e alma na luta armada. Inclusive, estaria à frente da mais espetacular ação dos grupos guerrilheiros urbanos: o rapto do embaixador estadunidense Charles Burke Elbrick.
A ideia do sequestro havia partido da Dissidência da Guanabara (DI-GB), mas ela não tinha quadros experientes para executar essa tarefa. Por isso, pediu a ajuda da ALN de São Paulo. O apoio foi acertado diretamente com Câmara Ferreira, sem que a ALN do Rio e mesmo Marighella soubessem de nada.
A essa ação foram incorporados Virgílio Gomes da Silva (Jonas) e o próprio Câmara Ferreira (Toledo), ambos dirigentes da ALN. O primeiro seria o comandante militar e o segundo comporia o comando político, que ajudaria a elaborar o manifesto público e a lista de militantes presos que seriam trocados pelo embaixador, além de definir os delicados passos das negociações com a ditadura.
A operação, realizada na semana da pátria, foi um sucesso. Quinze revolucionários foram libertados e o manifesto saiu nos principais meios de comunicação. O texto divulgado concluía assim: “Finalmente, queremos advertir aqueles que torturam, espancam e matam nossos companheiros: não vamos aceitar a continuação dessa prática odiosa. Estamos dando o último aviso. Quem prosseguir torturando, espancando e matando ponha as barbas de molho. Agora é olho por olho, dente por dente.”
A ditadura saiu desmoralizada. Contudo, a resposta dos militares seria dura e desarticularia a ALN, eliminando seus principais dirigentes. Isso, de certo modo, já havia sido previsto por Marighella, que não soubera antecipadamente da ação e por isso mesmo havia se desentendido com Toledo. O ato espetacular havia jogado demasiada luz sobre uma organização que ainda não estava suficientemente preparada para se defender da ofensiva que seria desencadeada pelos órgãos de repressão.
Poucos dias depois, em 29 de setembro de 1969, Virgílio Gomes da Silva (o comandante Jonas) foi preso, brutalmente torturado e assassinado nas dependências da Operação Bandeirante (OBAN). Quase todos os envolvidos no rapto do embaixador foram presos. Em outubro, o comandante Toledo, como era conhecido, foi obrigado a sair do país até que as coisas se acalmassem. Mas elas não se acalmaram, pelo contrário se agravaram. Na França, recebeu a trágica notícia do assassinato de Carlos Marighella, ocorrido em 4 de novembro em plena Alameda Casa Branca na cidade de São Paulo. Isso o chocou profundamente. Em seguida, viajou a Cuba e teve uma audiência com Fidel Castro, o que reforçou sua autoridade frente ao movimento revolucionário brasileiro. Aos 56 anos faria um curso militar na ilha socialista.
Sabendo o que se passava pela cabeça de Câmara Ferreira, vários amigos o aconselharam a permanecer no exterior. Diziam que se ele voltasse ao país seria como estar assinando a própria sentença de morte. Mas Câmara Ferreira estava decidido a assumir o seu posto de combate no Brasil. Pesava-lhe nos ombros o fato de que jovens continuavam lutando e morrendo num confronto cada vez mais desigual com a ditadura.
E em dezembro de 1969 – dois meses depois de partir – Câmara Ferreira estava de volta e começava a empreender uma desesperada “fuga para frente”. Agora como principal dirigente da ALN, centralizou a organização e manteve a ofensiva militar, contra todas as possibilidades de vitória. Buscou constituir uma “frente armada”, envolvendo a ALN, o Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT) e a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Procurou também congregar o MR-8 e o PCBR, sem grande sucesso. O seu grande objetivo era criar as condições para dar início à ação guerrilheira no campo. Num dos seus últimos textos escreveu: “A vanguarda foi se definindo, não sob a forma de uma única organização, mas de numerosas. Entretanto havia um denominador comum a todas elas: a compreensão de que a revolução brasileira se desenvolveria fundamentalmente no campo, que teríamos que travar uma guerra prolongada e que deveríamos concentrar nossos melhores esforços na preparação do desencadeamento da guerrilha rural”. Carlos Lamarca (então na VPR) e Joaquim Câmara Ferreira passaram a ser os principais expoentes da guerrilha urbana que não conseguiu se deslocar para o campo e, por isso mesmo, eles passaram a ser os alvos privilegiados da repressão. Seus dias estavam contados.
Vítima de uma traição, no dia 23 de outubro de 1970, Câmara Ferreira foi preso por agentes do DOPS num encontro que teria no bairro de Moema em São Paulo. O velho camarada resistiu o quanto pôde à prisão. Entrou em luta corporal com os policiais que, com muito esforço, o enfiaram na viatura. Depois foi conduzido a um sítio – na verdade um centro clandestino de tortura – mantido pelo famigerado delegado Sérgio Paranhos Fleury. Torturado durante toda a viagem, como era praxe, sofreu um enfarte. Chegou bastante mal no local onde deveria ser interrogado, morrendo pouco tempo depois. Seus algozes não puderam extrair dele nenhuma informação. Em menos de um ano a ALN perderia dois de seus principais comandantes e entraria em colapso. Em 17 de setembro de 1971 tombaria Carlos Lamarca no interior da Bahia, pondo fim ao ciclo da guerrilha urbana, mas não ao da luta armada. Seis meses depois a chama reacenderia nas matas do Araguaia.
A famosa foto dos presos políticos libertados em troca do embaixador:
* Neste artigo usei amplamente o livro de Luiz Henrique de Castro Silva intitulado O revolucionário da convicção: vida de ação de Joaquim Câmara Ferreira, publicado pela editora da UFRJ em 2010.
** Augusto Buonicore é historiador, secretário-geral da Fundação Maurício Grabois. E autor dos livros Marxismo, história e a revolução brasileira e Meu Verbo é Lutar: a vida e o pensamento de João Amazonas, ambos publicados pela Editora Anita Garibaldi.
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