Não é a primeira vez que uma casual viagem de ônibus sem maiores pretensões acaba por me proporcionar experiências singulares.
Se abrirmos os olhos e afinarmos nossa percepção, podemos ver na correria do dia a dia, situações e pessoas inusitadas. Que muitas das vezes passam despercebidas e deixam de nos encantar por estarem como que invisíveis aos nossos olhos.
Se abrirmos os olhos e afinarmos nossa percepção, podemos ver na correria do dia a dia, situações e pessoas inusitadas. Que muitas das vezes passam despercebidas e deixam de nos encantar por estarem como que invisíveis aos nossos olhos.
Ontem não foi diferente. Entrei no ônibus em Sorocaba quando vi alguns garotos brincando com um senhor. Na verdade estavam bagunçando com ele por causa do hálito de bebida e roupas sujas. Ele por sua vez, não demonstrava irritação, parecia até se divertir. Talvez por que era uma maneira de ser notado ou fugir da própria solidão.
Assim que entrei, os garotos desceram. Ao me sentar em um dos bancos, aquele senhor se levantou de onde se encontrava me cumprimentou e sentou-se ao meu lado já começando a conversar. Mais num monólogo que um esperado diálogo. O cheiro da bebida estava insuportável, mas mantive-me impassível ali. Até que percebi que não eram palavras sem sentido as que ele proferia. Tinham um sentido para ele e aos poucos começaram a fazer sentido pra mim também. Ele estava contando sobre sua história (ou melhor, dizendo, estava cantando sua história), sua vida em Pernambuco na cidade de Serra Talhada, que depois descobri ser conhecida como a capital do xaxado, o que explicava por que tudo era narrado em repentes e musicas que ele cantava para mim ao pé do ouvido segurando em meu braço para manter minha atenção.
Por um momento esqueci-me do cheiro da bebida, de suas roupas sujas e viajei em sua cantoria. Podia ver-me naquela cidade natal do cangaceiro Lampião, sofri o calor da seca nordestina.
Ele continuava a cantar e eu em meus devaneios entre a música, a história e as imagens que eu criava cheguei a sentir a presença dos meninos e da cachorra baleia de Vidas Secas. E pensei por um momento que aquela mão que segura forte em meu braço, fosse de Fabiano o vaqueiro rude e lacônico de Graciliano Ramos.
Depois dessa experiência gratificante. Resolvi transformar o musical monólogo em um diálogo. Porém o homem me respondia às perguntas com outras cantorias. Como se só assim lhe fosse possível lembrar-se dos detalhes das respostas.
Então me dei por vencido.
Por um momento esqueci-me do cheiro da bebida, de suas roupas sujas e viajei em sua cantoria. Podia ver-me naquela cidade natal do cangaceiro Lampião, sofri o calor da seca nordestina.
Ele continuava a cantar e eu em meus devaneios entre a música, a história e as imagens que eu criava cheguei a sentir a presença dos meninos e da cachorra baleia de Vidas Secas. E pensei por um momento que aquela mão que segura forte em meu braço, fosse de Fabiano o vaqueiro rude e lacônico de Graciliano Ramos.
Depois dessa experiência gratificante. Resolvi transformar o musical monólogo em um diálogo. Porém o homem me respondia às perguntas com outras cantorias. Como se só assim lhe fosse possível lembrar-se dos detalhes das respostas.
Então me dei por vencido.
Ao levantar-me e despedir-me para descer do ônibus no meu ponto, ele prontamente parou de cantar. E me disse seu nome. Teodoro, filho de português, sanfoneiro e violeiro. Nascido na cidade de Serra Talhada no Sertão de Pernambuco. E me passou o endereço completo de onde poderia encontrá-lo em Sorocaba.
Desci do ônibus ainda aturdido com a experiência. A última visão que tive de Teodoro foi ele sozinho naquele banco depois de eu ter saído. E com certeza deve ter continuado assim. A não ser que outros garotos o foram entreter depois.
Mas esse é meu Xeque!
Por que deixamos isso acontecer?
Quanta cultura eu absorvi em alguns minutos naquele ônibus. Um pedacinho da história e cultura de Pernambuco (e por que não dizer do Brasil), me foi passada por alguém que normalmente se torna invisível à sociedade.
Quantos “Teodoros” estão espalhados e esquecidos por ai, com suas ricas histórias, esperando alguém que as queira escutar. Quanto do nosso querido Brasil e de outros países, podem estar guardados na cabeça desses “Teodoros” da vida. Que só servem para entretenimento da juventude que muitas vezes não respeitam o ser humano e suas histórias.
Mas esse é meu Xeque!
Por que deixamos isso acontecer?
Quanta cultura eu absorvi em alguns minutos naquele ônibus. Um pedacinho da história e cultura de Pernambuco (e por que não dizer do Brasil), me foi passada por alguém que normalmente se torna invisível à sociedade.
Quantos “Teodoros” estão espalhados e esquecidos por ai, com suas ricas histórias, esperando alguém que as queira escutar. Quanto do nosso querido Brasil e de outros países, podem estar guardados na cabeça desses “Teodoros” da vida. Que só servem para entretenimento da juventude que muitas vezes não respeitam o ser humano e suas histórias.
Sei que é mais cômodo se esquivar quando você se depara com um desses, cheirando a álcool de roupas sujas. Sei que é difícil imaginar que pode haver beleza por trás de cena tão degradada. Mas o que pretendo aqui é pedir uma chance a esses “Teodoros”. Assim como eu fiz, dando uma chance ao senhor Teodoro, sanfoneiro e violeiro, descendente de português nascido em Pernambuco e esquecido no interior de São Paulo. Agora lembrado por esse humilde blogueiro.
Marcelo Bancalero
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