Magazine do Xeque-Mate

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O chefe solicita sua amizade. Vai Bloquear ou Add?

O chefe quer ser seu amigo
A maioria das empresas restringe as redes sociais. Mas já há quem as estimule, ou até crie as suas. O que você acha de entrar para a comunidade do escritório?
FABIANA MONTE
 Daryan Dornelles
EXPOSIÇÃO 
Mauro Segura, diretor de comunicação da IBM, na sede da empresa, no Rio de Janeiro. Ele diz que as redes ajudam a trabalhar melhor – apesar dos eventuais problemas de vazamento de informações
Quando os telefones se popularizaram nos escritórios, na década de 60, houve dilemas e questionamentos. Se a ligação por voz a distância oferecia uma nova possibilidade de falar com colaboradores e clientes, também trazia o medo do abuso (com os impulsos caros) e da perda de produtividade. Inicialmente, só era possível fazer ligações entre ramais. Cabia à telefonista da empresa realizar as chamadas externas. O objetivo era evitar que as pessoas fizessem telefonemas pessoais ou desnecessários. Mas, à medida que as ligações foram ficando mais baratas e as pessoas se acostumaram com a etiqueta do telefone, ele deixou de ser visto como ameaça. Agora é a vez das redes sociais. Elas criam oportunidades e ameaças para as empresas. E para seu emprego. O que seu chefe acha de quem passa o dia com o Facebook em uma das janelas do computador? Será que alguém vigia o que você posta no YouTube?
Por enquanto, não há tendência clara entre as empresas. A consultoria de recursos humanos americana Robert Half realizou uma pesquisa entre fevereiro e março deste ano com 3.052 executivos em todo o mundo. De acordo com a pesquisa, 38% dos funcionários podem usar sites como Facebook, LinkedIn e Twitter sem nenhuma restrição. Outros 37% não têm permissão para acessar esses sites e 24% podem fazê-lo de forma restrita. No Brasil, foram ouvidas 227 pessoas: 44% navegam em sites de relacionamento, com restrições. E 26% não podem sequer entrar neles. “A maioria das empresas bloqueia o acesso por não saber como tratar o assunto”, afirma Ricardo Basaglia, da consultoria de contratação de executivos Michael Page. As regras, quando existem, são criadas para evitar constrangimentos ou distrações. Um estudo da consultoria de recursos humanos Manpower mostra que 20% das empresas têm políticas de uso de redes sociais. Delas, 63% visam evitar perda de produtividade. A segunda maior preocupação (33% das respostas) é proteger informações confidenciais e zelar pela reputação da empresa. A Intel, no Brasil, implantou até treinamento. “Queremos que os funcionários entendam o que significa falar nesse meio, no qual o pessoal e o profissional ficam em uma zona cinza”, diz o diretor de marketing Cássio Tietê.
Apesar do medo, cresce o movimento de empresas que enxergam nas redes uma oportunidade para explorar o conhecimento de seus funcionários. A IBM, com 80 mil empregados no mundo, não só permite como estimula as redes sociais no trabalho. Ela hospeda 15 mil blogs de funcionários nos servidores. Também tem 60 mil páginas wikis, editadas de forma colaborativa pelos funcionários. “Não gasto tempo pesquisando quanto tempo as pessoas gastam com redes sociais porque, para mim, elas são muito positivas”, diz Mauro Segura, diretor de comunicação da IBM – que em 2005 criou um guia de uso de redes sociais. Para ele, o efeito positivo das redes supera perigos como perda de produtividade, vazamento de informações e danos à imagem da empresa.
Mesmo assim, a IBM viveu incidentes. Em um dos casos, um empregado publicou no YouTube o trecho de um vídeo de treinamento de vendas da empresa sobre fraquezas de seus concorrentes. Em outro, uma funcionária imprimiu um texto da intranet da empresa e publicou o documento em seu blog pessoal, junto com um post discordando da empresa. Nos dois casos, os conteúdos foram retirados do ar. Segura solicitou a exclusão do vídeo ao YouTube e orientou a funcionária a discutir com o chefe quando discordasse, em vez de expor as críticas em um blog. “Quando uma empresa tem milhares de funcionários que falam com fornecedores e clientes o tempo todo, eles já são porta-vozes”, diz. Para ele, os acidentes ajudaram a educar as pessoas para usar as redes.
Uma alternativa mais segura é construir redes sociais dentro da empresa, como fez o Ibope. Com 2.800 funcionários espalhados pela América Latina, a empresa usa as redes para trabalhar de forma descentralizada. As equipes são formadas por projeto. Em 2009, o Ibope criou a rede interna Pipow, atualmente com 350 participantes ativos. Cada novo projeto é uma comunidade. “A rede aumenta a sinergia entre as equipes e estimula a cultura de trabalho orientado a projetos”, afirma Alexandre Trivellaro, diretor de inovação do Ibope. Nas comunidades, é possível colocar notícias e textos próprios, criar fóruns de discussão e compartilhar arquivos, como vídeos, documentos e apresentações. O próximo passo, diz Trivellaro, será fazer com que a rede social incentive as pessoas a trocar mais informações pessoais, com dicas de restaurantes para almoçar e sobre qualidade de vida. Além disso, o Pipow deverá ganhar aplicativos como uma planilha para que o funcionário indique, a partir das comunidades, as horas dedicadas a cada projeto. “A rede social vai virar uma ferramenta de trabalho”, diz.

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